Vanessa da Mata repele intolerâncias e moldes machistas no álbum ‘Todas elas’

  • 12/05/2025
(Foto: Reprodução)
Disco cresce na segunda metade das 11 faixas, quando a compositora se liberta dos próprios padrões autorais e flerta até com o jazz latino em faixa com o pianista norte-americano Robert Glasper. Capa do álbum ‘Todas elas’, de Vanessa da Mata Priscila Prade ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Todas elas Artista: Vanessa da Mata Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♬ Na letra de Eu te apoio em sua fé, afro(beat)samba que integra o repertório do 11º álbum de Vanessa da Mata, Todas elas, a artista sai em defesa de quem segue os cultos de matriz afro-brasileira, alvos de intolerância religiosa. É legítimo protesto de cantora e compositora que se sabe negra, embora não seja percebida como negra pela racista sociedade brasileira por conta da pele clara. Em Todas elas, álbum que lança hoje, 12 de maio, com repertório inteiramente autoral, Vanessa da Mata repele intolerâncias e moldes sociais sob prisma feminino. Nos versos de Maria sem vergonha, por exemplo, a compositora lista convenções sociais impostas às mulheres para se rebelar no refrão contra esse cabresto social que ainda vigora em universos machistas. No todo, o disco é bom. Mas Vanessa da Mata repete os próprios padrões sonoros na primeira metade das 11 faixas de Todas elas, álbum formatado com produção musical orquestrada pela artista com os toques de músicos recorrentes nos discos da cantora, caso sobretudo do guitarrista Maurício Pacheco. A safra autoral de Todas elas oscila como a do álbum antecessor de Vanessa, Vem doce (2023), mas o disco cresce a partir da sétima das 11 músicas. A propósito, o disco chega ao mundo digital com 11 músicas, mas a filósofa e psicanalista Viviane Mosé menciona, em texto escrito para apresentar Todas elas, a existência de regravação de Nada mais (1984), versão em português de Lately (Stevie Wonder, 1980) feita por Ronaldo Bastos para Gal Costa (1945 – 2022), mas a faixa deve ter sido guardada para futura edição deluxe do álbum. Sem Nada mais, por ora, o disco apresenta baladas que roçam o apelo popular, caso de Esperança, canção naturalmente escolhida para anunciar o álbum Todas elas em single apresentado em 11 de abril. Nessa seara, a artista também apresenta Troco tudo, canção composta e gravada em uníssono com o parceiro Jota.Pê. A letra versa sobre amor capaz de desanuviar coração nublado. Na sequência deste álbum hábil na pregação de que o amor cura, É por isso que eu danço põe na pista ecos da disco music – perceptíveis na breve passagem instrumental da faixa – e evidencia o apuro dos arranjos coletivos, às vezes mais interessantes do que as músicas em si. Atual faixa-foco do disco, É por isso que eu danço tem metais recorrentes no álbum Todas elas, orquestrados por Luiz Potter ou Rafael Rocha. Arranjada sem metais, Me adora, mas... põe em questão os relacionamentos abusivos de parceiros amorosos tóxicos. Já Um passeio com Robert Glasper nomeia no título o pianista e compositor norte-americano que participa da música. Glasper é artista associado ao universo do jazz e do soul dos Estados Unidos. O piano do artista é o toque luxuoso de faixa que celebra as riquezas artísticas do Brasil com mix de samba, latinidade e jazz, roçando o universo do jazz latino e reverberando (com personalidade) o suingue tropical já exportado pelo pianista Sergio Mendes (1941 – 2024). Sem Glasper, o passeio continua em Quem mandou, samba de balanço vintage que ecoa Jorge Ben Jor enquanto alveja os machistas que oprimem e confinam mulheres em papéis servis. Ciranda mergulha nas águas do homônimo gênero musical pernambucano para exaltar a fibra da mulher brasileira na luta cotidiana da vida severina que enfrenta sede e fome. Faixa situada na mesma nação nordestina, Sobre as coisas mais difíceis marcha em procissão entre a pisada do maracatu e a levada do ijexá, se elevando como o grande destaque da atual safra autoral dessa compositora de assinatura pessoal. A gravação se impõe como uma das mais expressivas da discografia de Vanessa da Mata. Gravado e mixado no estúdio Visom Digital, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum Todas elas fecha na praia do reggae Demorou, gravado pela cantora com João Gomes, cantor pernambucano que já havia participado do álbum anterior da cantora, Vem doce. Com temática atual, o reggae prega o amor como antídoto que liberta das neuras e pânicos os que acabam enredados em códigos sociais. Caso raro de álbum que começa com a impressão de que vai ser mais do mesmo em Maria sem vergonha, mas que vai crescendo e se mostrando renovador à medida em que avançam as onze faixas, Todas elas é feminista sem ser panfletário. O álbum atesta a relevância de Vanessa da Mata como compositora perspicaz na exposição dos anseios e conquistas sociais em cancioneiro autoral que permanece coerente desde que chegou ao mundo em 1999 na voz referencial de Maria Bethânia. Nesse sentido, por mais que Vanessa da Mata às vezes repita os próprios padrões autorais, a força da compositora nunca seca.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2025/05/12/vanessa-da-mata-repele-intolerancias-e-moldes-machistas-no-album-todas-elas.ghtml


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